Se o Brasil é
uma família, o Rio Grande do Sul é como filho desgarrado, ovelha negra, neste
mar verde pampeano, silencioso e vazio... Gente estranha, mas gosta.
Cuidando da
casa, do gado, da família, da lavoura. Certa vez ouvi dizer: “Gaúcho, é que nem
cavalo chucro, hospitaleiro, te recebe bem em sua casa, mas não abuse de sua
filha, não mata, faca ta na guaiaca”.
Um índio
taura, entre espanhóis e portugueses que se esfolavam para saber quem era o
dono da terra gaúcha, luta contra seu pior inimigo, o frio.
Que faz sua
lei no “fio do bigode”, zanza por ai... Montado num cavalo bagual, ou petiço,
antes de descansar num pelego, faz um fogo de chão, assa uma janela, da costela
de uma vaca, que atolou lá pelas bandas do Rio da Prata, ou um riacho por ai...
Laranjas de sobremesa colhidas no pé.
Como diz um
nego véio, tem que ter um olhar biosférico. Explico: Primeira vista: lembra um
ronin (samurai sem mestre do Japão feudal), a segunda vista: lembra Homem – X
(lenhador no Canadá dos filmes de Valverine), pode ter nome qualquer, ou
capitão Rodrigo, carrega viola nas costas, ou no peito uma gaita ponto.
Começa que
diverge de tudo... Coloca os pingos no “i” e no “j”, altera estatística: - Mas
conta com o precioso aval de um certo Analista de Bagé, personagem de Luis
Fernando Veríssimo que recebia seus pacientes de bombacha e esporas, berrando:
"Mas que frescura é essa de neurose, tchê?
- No meu
consultório tenho uma guampa esculpida com as caras de Adler e Jung. A Dona
Melanie Klein também, era china de se apresentar pra mãe. Coisa mui especial.
Já esse tal de Reich, nem pra catá bosta. Reich, pra mim, é prenúncio de
cuspida.
O Analista fez
o curso Em Paris, Viena, e Nova Iorque, com especialização em Passo Fundo...
Maragato, Guarani, Internacional, Iolanda Pereira, João XXIII, sal grosso em
vez de salmoura, tango, mulher ancuda, pinga ardida, fumo de rama, filme de
pirata e afirma: “Não sei cagá sem ler o Correio”. Ele só fala “inglês pra
comprá boi”.
Além do
gaúcho, chamado de machista", qual outro povo que valoriza a mulher a
ponto de chamá-la de prenda (que quer dizer algo de muito valor)?
Ô, gaudério, tchê! Ou, como se diz em outra praças: "legal às pampas", uma expressão que, por sinal, veio daqui do sul.
Ô, gaudério, tchê! Ou, como se diz em outra praças: "legal às pampas", uma expressão que, por sinal, veio daqui do sul.
Chimarrão, churrasco, carreteiro de charque, com ou sem milonga, mas
valhe lembrar que há controvérsias quanto à “Revolução Farroupilha”, porém,
somos gaúchos e bem ou mal cultivamos nossas tradições.
Em 1870, José
de Alencar publica romance “o Gaúcho”, sem nunca ter estado no Rio Grande do
Sul. Os contos
gauchescos de Simões Lopes Neto contam nossa história. Mini série global a
“Casa das Sete Mulheres”, do diretor Jaime Monjardim mostra um pouco da saga
riograndense, outro filme atual é o “Tempo e o Vento” inspirado na obra do
escritor Érico Veríssimo, ou “Uma certa Bibiana”, de 1985, é outra inspiração
do velho Érico. Neto Perde a Alma, de Tabajara Ruas, em que participa o ator
negro e diretor teatral canoense João Maximo.
Os dias que antecedem 20 de Setembro acontecem às festividades que se
comemoram a semana farroupilha com desfiles, nos quais participam prendas e
peões montados a cavalo, a “Chama Crioula” circula por todo estado.
* Moacyr Vargas Junior - Escritor