A Polícia Civil indiciou 16 pessoas pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro. Os resultados do inquérito policial sobre a tragédia, um vasto documento com cerca de 13 mil páginas, são apresentados pela cúpula da corporação no campus universitário da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Além disso,foi confirmado que todas as 241 vítimas morreram por asfixia. Conforme exames do Instituto Geral de Perícia (IGP), 100% dos óbitos ocorreram pela inalação de dióxido de carbono com cianeto.
"Concluímos que há 35 indicativos de responsabilizações. Foram 16 indiciamentos criminais. Há 10 indícios de crime. Destes, nove vão para a Justiça Militar e um para o Tribunal de Justiça. Estamos apontado as pessoas que de alguma forma foram responsáveis por crime danoso", comentou o delegado Marcelo Arigony.
Cinco delegados atuaram na investigação durante 55 dias: o titular da Delegacia Regional de Polícia Civil, delegado Arigony, além dos delegados Sandro Meinerz, Marcos Vianna, Luiza Souza e Gabriel Zanella. Entre os pontos abordados pelo delegado Arigony, que presidiu o inquérito, está a superlotação da casa noturna. “Temos certeza da superlotação da casa”, declarou. Segundo ele, 119 pessoas afirmaram em depoimento que havia mais de mil pessoas no local. “Com porta adequada, com ventilação, extintores, rota de fuga, sinalização e sem as barras de contenção que havia na saída, a boate Kiss poderia, talvez, comportar até 761 pessoas”, revelou.
Ainda conforme o delegado, 108 pessoas declararam que o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus do Santos, usou fogo de artifício quando estava no palco e ergueu o objeto em direção ao teto. “Não há como negar que: o que botou fogo? O músico com fogo de artifício”, disse. Segundo o inquérito policial, o cantor tentou apagar os focos de incêndio com um extintor, que não funcionou. Em 40 segundos, o ambiente foi tomado pela fumaça preta provocada pelas chamas, segundo Arigony: “Uma vasta prova testemunhal nos diz que rapidamente a fumaça tomou conta do ambiente e as pessoas não enxergaram mais nada”.
O delegado afirmou também que houve negligência dos músicos durante o incêndio: “A gente esperava que eles fossem os últimos a saírem. Mas muito pelo contrário, eles deixaram o local por outro lado. Era responsabilidade deles tentar salvar o máximo de pessoas possível”.
Para o chefe da corporação, delegado Ranolfo Vieira Júnior, o inquérito é considerado o “maior da Polícia Civil”. “Isso é o início, a primeira conclusão, é um longo processo. A Polícia Civil torna pública aqui as suas conclusões. Amanhã ou depois será a vez do Ministério Público, que talvez, que é natural no processo, não concorde, ou aumente ou diminua o leque dessas responsabilizações. Num segundo momento será o Poder Judiciário”, sintetizou.
Indiciados:
O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, deve ser investigado pela Justiça por improbidade administrativa. Será remetida uma cópia do inquérito policial à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça Estado para apurar a responsabilidade do Executivo. Além dele, também vai ser investigado o comandante regional do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, coronel Moisés Fuchs.
Foram indiciados por homicídio doloso - 241 vezes por asfixia e 623 vezes por tentativa de homicídio qualificado: Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira; Luciano Augusto Leão, produtor da banda Gurizada Fandangueira; Elissandro Sphor, sócio da Kiss; Mauro Hoffman, sócio da Kiss; Ricardo de Castro Pasche, gerente da boate Kiss; Ângela Aurélio Callegaro, irmã de Elissandro e gerente da boate, que está registrada no nome dela; Marlene Teresinha Callegaro, mãe de Elissandro e sócia da boate; Gilson Martins Dias, bombeiro vistoriador; e Vagner Guimarães Coelho, bombeiro vistoriador.