Crônica de uma morte anunciada
(Texto curto... verdade grande!)
Texto e foto Marco Leite
Cheguei em Canoas, em 1978, com uma carteira de identidade velha e ela foi se deteriorando por eu não lhe ter dado o devido cuidado. É muito chato tu apresentares um documento e ele não ser aceito por estar em um estado de conservação ruim.
É mais ou menos isso que acontece com a cultura e o patrimônio histórico de Canoas.
Nós não sabemos cuidar do que é nosso. Desde 1978 tenho acompanhado a destruição de nosso patrimônio. Vi a 'Casa do Mathias Velho' ser destruída para dar lugar a um shopping, e o mais engraçado é que o lugar onde ficava a edificação, não foi ocupado pelo empreendimento. Os burros culturais teriam ganho a comunidade facilmente se deixassem a casa como cartão de visita desse shopping, sem destruí-la.
Vi também o 'Casarão dos Longoni' ser decepado antes do seu tombamento. Até hoje ele está lá, sem uso, caindo aos pedaços... e ninguém o compra. Poderia ser um espaço a mais em nossa cultura, uma casa que também contasse a nossa história. Mas a ganância imobiliária foi maior.
Bem próximo dali, na Av. Santos Ferreira esquina com a rua Felipe Noronha, a já tombada 'Casa Vila Nenê' (foto) está com o seu telhado já parcialmente desmoronado. Sim, é visível, basta passar em frente para confirmar. E como a luz elétrica é vista ligada, em breve, facilmente, poderá ocorrer um curto circuito e mais um patrimônio histórico da cidade ficará destruído. Neste caso, uma vistoria no local se torna urgente para evitar-se o pior.
Hoje, 10.09, passei na passarela da Fundação Cultural de Canoas e vi o fogo destruindo a Casa dos Rosa. Ela lá, inocente, envolvida em pendengas judiciais, decidiu 'morrer', pois não aguentou tanto descaso da sociedade em que foi uma das precursoras.
Agora vão aparecer os oportunistas de plantão procurando culpados, mas já aviso: "somos todos nós os culpados". Oportunistas, então, "tirem o cavalinho da chuva", pois nem a chuva foi suficiente para deter mais uma morte anunciada de nosso patrimônio.
Culpados e sem cultura, sem cultura e culpados, somos todos nós.