Um ano desde que as águas invadiram ruas, casas, histórias.
Desde que o Rio Grande do Sul chorou junto com o céu, vendo suas cidades serem arrastadas pela força impiedosa da natureza.
Um ano desde que bairros inteiros desapareceram sob a lama, que famílias perderam tudo — não apenas móveis e paredes, mas memórias, álbuns, cartas, brinquedos, cheiros e histórias que o tempo não apaga, mas que a água tentou levar.
Perdemos vidas.
Pessoas queridas.
Animais de estimação que eram parte da família.
Vizinhos, amigos, desconhecidos que se tornaram parte da mesma dor.
O luto não tem endereço, nem classe social.
A enchente nos igualou na fragilidade, mas também despertou algo poderoso: a solidariedade.
Em meio à lama, floresceu o amor.
Vieram voluntários de todos os cantos, braços estendidos, mãos incansáveis, corações generosos.
Gente que deixou o conforto de casa para acolher o outro.
Abrigos cheios de doações: roupas, alimentos, remédios, palavras de consolo e olhares de compaixão.
O Brasil se fez presente.
Outros países também.
Foi como se o mundo, por um instante, olhasse com carinho para o nosso Sul ferido.
E o povo gaúcho... ah, o povo gaúcho.
Somos de alma teimosa, que sabe que a dor não destrói quem é feito de coragem.
Com as botas sujas de barro e o coração cheio de fé, começaram a reconstruir.
Uns sem nada.
Outros com quase nada.
Mas todos com esperança.
Ainda há muito a ser feito.
Famílias que não voltaram pra casa porque não há mais casa para voltar. Comunidades inteiras que ainda lutam por dignidade, por estrutura, por amparo.
Mas há também quem já reconstruiu, mesmo que aos poucos.
Quem reencontrou o animalzinho, que havia se perdido.
Quem plantou flores onde antes havia destroços.
Quem decidiu começar de novo.
Não esquecemos.
E não deixaremos esquecer.
Mas aprendemos que o amor acolhe, que a empatia reconstrói, que a solidariedade cura.
E, principalmente, que o sol volta a brilhar — não só no céu, mas no peito de quem acredita que dias melhores virão.
Hoje, um ano depois, seguimos com sorrisos teimosos.
Porque reerguer-se é um ato de resistência.
E aqui, não tá morto quem peleia!
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