O atual
prefeito de Canoas, Jairo Jorge, se desfiliou do Partido dos Trabalhadores (PT),após 32 anos de militância. Ele se pronunciou através de uma carta em sua
conta no Facebok, onde justifica a saída. “Deveríamos receber com humildade o
recado das urnas. A população nos reprovou, com derrotas em cidades onde sempre
tivemos excelentes resultados”.O ato foi formalizado na Justiça Eleitoral nesta tarde.
Jairo Jorge era filiado ao
partido desde 1984 e disputou sete eleições pela sigla.
Carta ao Partido dos
Trabalhadores:
Há 40 anos quando comecei a fazer política, o
Brasil vivia uma ditadura, hoje temos uma democracia plena e madura. Nos seus
36 anos de história o PT teve uma contribuição decisiva na revolução
democrática e social que ocorreu no Brasil. Um partido que nasceu de baixo para
cima, colocando os trabalhadores como protagonistas da política.
Filiado desde 1984, disputei sete eleições pelo PT,
sendo a primeira em 15 de novembro de 1985, como prefeito de Canoas, há exatos
31 anos quando fui o candidato mais jovem de todo o Brasil. Também concorri a
deputado estadual em 1986. Em 1988, elegi-me vereador em Canoas com 3.147
votos, sendo o mais votado da cidade e de todo o interior do Estado pelo
partido. Em 1990 e 2006, novamente concorri a deputado estadual.
De 2003 a 2006, tive a oportunidade de ser
Secretário Executivo da Secretaria Especial do Conselhão na Presidência da
República e de ocupar funções importantes no Ministério da Educação como Chefe
de Gabinete, Secretário Executivo Adjunto e Secretário Executivo, onde pude
contribuir na construção e execução de projetos estratégicos como PROUNI, Prova
Brasil, Escola de Fábrica, Projeto Presença e Fundeb.
Em 2008 fui eleito prefeito de Canoas e reeleito em
2012 com a sexta maior votação entre as maiores cidades brasileiras. Tornamos
nossa gestão referência em democracia participativa no Rio Grande, no Brasil e
no mundo. Uma administração que inovou na saúde, educação, cultura, segurança e
nas políticas de inclusão, diversidade e direitos humanos. Uma gestão
empreendedora que gerou oportunidades, renda, emprego e fortaleceu a economia
solidária. Tenho certeza de que nestes oito anos de administração honrei a
história do partido, não estando em nenhum momento na contramão do projeto
partidário de desenvolvimento.
Os governos dos Presidentes Lula e Dilma colocaram
em prática projetos, programas e iniciativas que transformaram a nação. O
PROUNI, FUNDEB, Minha Casa Minha Vida, Luz para Todos e Bolsa Família, entre
tantos outros, ajudaram a reduzir as desigualdades e construir um Brasil mais
plural, democrático, heterogêneo e inclusivo. Tive a honra de participar do
primeiro governo do Presidente Lula e testemunhar a liderança, coragem e
determinação deste grande brasileiro.
Deveríamos receber com humildade o recado das
urnas. A população nos reprovou, com derrotas em cidades onde sempre tivemos
excelentes resultados. Vivemos tempos de radicalização na cena política, mas o
caminho da superação não passa pela simples volta ao passado. Só uma
ressignificação da imagem e do ideário da esquerda, somente o reencantamento do
povo, com uma política de novo tipo poderá recompor a nossa base social e
possibilitar novamente um diálogo com os setores médios da sociedade.
Os erros dos dirigentes do PT deveriam ter sido
alvo de uma profunda autocrítica do partido, fato que não ocorreu, por exemplo,
no 5º Congresso realizado em Salvador em junho de 2015. Ao invés de fazer o
novo de novo, de construir novos métodos de escolha de seus dirigentes, de
elaborar de forma colaborativa um novo programa e de uma nova agenda para a
nação, a maioria optou por manter tudo como estava e controlar a máquina partidária,
prenúncio da derrota eleitoral e política de 2016.
O partido deveria abrir-se para colher a opinião
dos milhões de brasileiros que ainda o projetam como uma alternativa de
esquerda. Não é suficiente manter a estrutura partidária restrita apenas às
tendências, é preciso criar estruturas horizontais de interação, plataformas de
participação para milhões e não para centenas. O PT nasceu para ser um partido
de massas e não somente de quadros.
Reconheço os esforços da Direção Estadual para
mudar o partido diante da convocação do 6º Congresso. O PT do Rio Grande do Sul
tem em Tarso Genro, Olívio Dutra e Raul Pont um patrimônio moral e ético. No
entanto, sabemos que as forças que desejam a mudança do partido são hoje
minoritárias na direção nacional.
Quero comunicar a direção partidária que estou
encaminhando meu pedido de desfiliação à Justiça Eleitoral. Decidi sair do PT
por dois motivos: primeiro, porque considero que minha capacidade de
interferência no âmbito partidário está esgotada; segundo, por entender que os
encaminhamentos que estão sendo dados não levarão a uma efetiva renovação do
partido.
Saio agora, depois de concluso o processo eleitoral
e no momento que estou findando meu mandato como prefeito reeleito pelo PT.
Sair antes poderia trazer prejuízos ainda maiores ao partido nas eleições de
2016 e à luta pela manutenção do mandato da Presidente Dilma Roussef, eleita
democraticamente pela vontade popular de 54 milhões de brasileiros.
Neste momento não estou ingressando em nenhum
partido. Mantenho minhas convicções como um militante de esquerda que acredita
na justiça social, na democracia, na liberdade e na igualdade de oportunidades.
Tenho certeza que os ideais de democracia e justiça
retomarão seu lugar na vontade popular e que as forças, setores, organizações e
personalidades que representam esta visão de mundo estarão unidos na mesma
trincheira, como já estiveram na luta contra a ditadura, pela anistia, pelas
diretas já, pela constituinte e, mais recentemente, contra o golpe na
Presidenta Dilma.
Esse é um ato individual e o faço respeitosamente,
pois sempre guardarei admiração e gratidão ao partido e a militância petista,
generosa e lutadora, que dentre tantas alegrias me elegeu prefeito de Canoas.
Desejo que o PT recupere a capacidade de luta que
lhe deu origem e agradeço o apoio e a confiança de todos com quem tive a honra
de militar nos últimos 32 anos. Para mim encerra-se um ciclo de participação
partidária, mas estaremos do mesmo lado na luta democrática e pela reconstrução
da esquerda no Rio Grande e no Brasil.
Jairo Jorge
16 de novembro de 2016
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