Uma suposta carta que seria
uma psicografia de um médium ditada pela cantora Cássia Eller,
morta em 2001, aos 39 anos, está circulando pelas redes sociais e
levantando polêmica.
O Lar de Frei Luiz, centro espírita
localizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio, confirmou que, a carta foi
psicografada no local. Segundo o presidente, Wilson Pinto, a mensagem foi
recebida por um médium na noite de 7 de maio, durante uma reunião de
dependência química.
Leia a carta na íntegra:
"Se eu disser para vocês que o inferno existe, acreditem, pois eu estava
mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço sombrio e frio, bem interno do
ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem descanso e afogava-me, a cada
segundo, num oceano de matéria viscosa que roubava até minha ilusória alegria…
Naquele lugar não havia luz, somente nuvens cinza e chuvas com raios e trovões,
gritos estridentes e desesperados, gemidos surdos, pedidos de socorro,
lágrimas, desalento, tristeza e revolta…
Preciso descrever mais as cenas dantescas de animais que nos mastigavam e, em
seguida, nos devoravam sem consumir nossos corpos; se é que posso dizer que
aquilo, que sobrou de mim, era um corpo humano. Queria fugir para bem longe
dali, mas tudo em vão, quanto mais me debatia no fluido grudento, mais me
afundava e, quando alcançava, de novo, a superfície apavorante, mãos e garras
afiadas faziam-me submergir naquele líquido pastoso e mal cheiroso.
Dragões lançavam chamas de suas bocas sujas e nos queimavam, machucando e estilhaçando
a pouca consciência que me restava da lembrança de minha estada no corpo
físico, neste planeta azul. Guardiões das trevas olhavam atentos seus presos e
vigiavam todos os movimentos realizados naquele imenso espaço de sofrimentos,
dores, lamentos, depressões, angústias e arrependimentos tardios… O ar era
ácido e provocava convulsões diversas.
Perguntava-me porque ali estava se nada fizera por merecer tão infeliz destino,
depois de ser expulsa do corpo de carne através do uso maciço de drogas. A dúvida
assaltava-me os raros momentos de raciocínio menos desequilibrado e as crises
de abstinência trancavam todas as portas que dariam acesso à saída daquele
campo de penitência de espíritos rebeldes e viciados com eu.
Os filmes de horror que assisti, quando encarnada, estariam ainda muito
distantes dos padecimentos, pânicos, pavores e temores que ficariam para sempre
registrados na minha memória mental, os piores dias que vivi até hoje, como
joguete e marionete de forças que me escravizavam o ser, debilitado, fraco,
desprovido de energias, suja, carente e chorosa.
Não me lembrava do que acontecera comigo… Quando o medo é maior que as
necessidades básicas, a mente fica encarcerada num labirinto hipnótico e
“torporizante” de emoções truncadas e desconectadas da realidade… Assemelha-se
a um pesadelo sem fim, sempre com final trágico e apavorante. Quando conseguia
conciliar um pequeno tempo de sono; era imediatamente desperta por seres que me
insultavam e xingavam, acusavam-me de suicida maldita e jogavam-me lama
misturada com pedras… Insetos e anfíbios ajudavam a traçar o perfil horrendo
dos anos que passei no umbral.
Preciso escrever estas palavras para nunca mais me esquecer: “Com o fenômeno da
morte, nós não vamos para o umbral, nós já estamos no umbral quando tentamos
forjar as leis maiores da criação com nossas más intenções e tendências
viciantes”.
Tudo fica registrado num diário mental que traça nosso destino futuro, no bem
ou no mal. O umbral não fora criado por Deus; ele é de autoria dos espíritos
que necessitam de um autêntico e genuíno estágio educativo em zonas inferiores,
onde poderão se depurar de suas construções aleijadas no campo dos sentimentos
e dos pensamentos disformes, mal estruturados e mal conduzidos por nossa
irresponsabilidade, de mãos dadas com a imensa ignorância que nos faz seres
infelizes e distantes da tão sonhada paz de consciência.
Após alguns anos umbralinos, despertei numa tarde serena, num campo verdejante
e calmo. Não acreditava no que via, pois tudo, agora, parecia um sonho…
Percebi, ao longe, o canto de uma ave que insistia em acordar-me daquele
pesadelo no qual já me acostumava a viver; a morrer todos os dias… Seu canto
era uma música que apaziguava meu coração e aguçava meus pensamentos na
lembrança de como fui parar ali naquele campo gramado e repleto de árvores.
Consegui sentar-me na relva e ao olhar todo aquele espaço natural, deparei-me
com milhares de outros seres como eu, nas mesmas condições de debilidade moral,
usufruindo, agora, de um bem que não merecia, mas vivia ! Todos nós dormíamos e
fomos despertos com música e preces em favor de todos os presentes…
A maioria era de jovens e adultos, poucos idosos e centenas de enfermeiros que
olhavam atentos para nossos movimentos no gramado. Com seus olhos serenos, projetavam
em nós a mansidão e a paz tão esperadas por nossos corações enfermos, débeis e
carentes de atenção, de afeto e carinho.
Alguém me tocava, de leve, os ombros e chamava-me pelo nome, como se me
conhecesse há muito tempo. Eu identifiquei aquela voz e “temia” olhar para trás
e confirmar minha impressão auditiva, era Cazuza todo de branco, como lindo
enfermeiro, de cabelos cortados bem curtos e estendia suas mãos para que eu
levantasse, caminhasse e conversasse um pouco em sua companhia.
Não consegui me levantar, porque uma enxurrada de lágrimas vertia dos meus
olhos, como nascente de rio descendo a montanha das dores que trazia no peito.
Meu ídolo ali estava resgatando e cuidando de sua fã, debilitada e muito
carente. Ele cantou pequena canção e tive a capacidade de avaliar o que Deus
havia reservado para aqueles que feriam suas leis e buscavam consolo entre
erros escabrosos e desconcertantes.
A misericórdia divina sempre conspira a nosso favor, nós desdenhamos do amor
divino com nossas desatenções e desequilíbrios das emoções comprometedoras, que
arranham e esmagam as mais puras sementes depositadas no ser imortal. aprendi
palavras boas!
Somente agora enxergo que sou espírito e que a vida continua e precisa seguir o
curso natural das existências, como na roda-gigante: hora estamos aqui no alto;
hora estamos aí embaixo encarnados. Daqui de cima, parece ser mais fácil
compreender porque temos de respeitar as leis e descer num corpo físico para,
igualmente, quando aí estivermos, conquistarmos, pelo trabalho no bem, a
lucidez que explica porque há a reencarnação, filha da justiça divina.
Após um tempo no campo reconfortante, fui reconduzida para um hospital onde me
recupero até hoje dos traumas e cicatrizes que criei no corpo do perispírito.
As lesões que provoquei foram muito graves, passei por várias cirurgias
espirituais e soube que minha próxima encarnação será dolorosa e expiarei asma,
deficiência mental e tuberculose.
Mesmo assim, estou reunindo forças para estudar, pois sempre guardamos, no inconsciente,
todos os aprendizados conquistados. Reencarnarei numa comunidade carente no
interior do Brasil e passarei por muitos reveses, para despertar em mim o valor
da vida do espírito na pobreza e na doença crônica. Peço orações e a caridade
dos corações que já sabem o que fazem e para onde desejam chegar. Invistam suas
forças e energias espirituais em trabalhos de auxílio ao próximo e serão,
naturalmente, felizes. Obrigada por me aceitarem como necessitada que
sou!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário