A atual
capacidade ociosa nas linhas de produção, os baixos níveis de estoque e a força
exportadora colocam o setor industrial em uma posição decisiva para retirar a
economia brasileira da atual crise sem precedentes na história do País. A
afirmação foi feita pelo presidente da Federação e do Centro das Indústrias do
Rio Grande do Sul (FIERGS/CIERGS), Heitor José Müller, durante a entrevista
coletiva de Balanço 2016 e Perspectivas 2017, nesta terça-feira (6), na sede da
entidade. Ele defendeu a urgência do início de um movimento sustentado de
reindustrialização no Brasil, a partir de políticas governamentais
simplificadoras da gigantesca burocracia nacional e de acesso ao crédito com
programas que incentivem um novo ciclo de investimentos privados. Juntamente
com medidas de concessões e privatizações, ainda há tempo de começar a reverter
os números negativos e cenários preocupantes para o próximo ano, reforçou
Müller. “Precisamos pensar em oxigenar a economia brasileira, por meio de
medidas pontuais. A começar pela enorme carga burocrática. Não é apenas a
questão tributária, é a burocracia exagerada também”, afirmou o presidente.
O Balanço
2016 e Perspectivas 2017 foi um trabalho elaborado pela Unidade de Estudos
Econômicos (UEE) da FIERGS. Aponta para a possibilidade de um lento início de
processo de reabilitação da economia brasileira a partir do próximo ano.
“A indústria de transformação tem perdido participação no PIB nacional.
Atualmente, com 9,8%, é a menor desde 1947”, alertou o economista-chefe da
FIERGS, André Francisco Nunes de Nunes. Esta demorada recuperação se dará,
especialmente, pelas taxas de crescimento, que serão tímidas nos primeiros
trimestres de 2017. Mas, para a FIERGS, se a melhora no ambiente para trabalhar
e empreender, a busca pelo equilíbrio das contas públicas e o controle da
inflação persistirem, o Brasil pode ingressar em um novo ciclo de expansão nos
próximos anos.
Segundo a
Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul, diferentemente das crises
anteriores, a atual não foi provocada por choques negativos de eventos
ocorridos no exterior. Portanto, a saída passa pela melhora dos fundamentos
internos, incluindo a crise política. “O grande problema é a incerteza. Cada
empresário faz a sua análise, aí não investe, não cresce, falta confiança. Não
há previsão para a semana que vem, para o mês que vem. Isso é muito ruim para
nossa economia, principalmente para a indústria”, disse Müller.
A FIERGS
traça três cenários possíveis para 2017. O cenário base considera que a
economia brasileira se estabilizará já nos dois primeiros trimestres do ano e
apresentará um pequeno crescimento de 0,5% no PIB, mas sobre uma base de
comparação deprimida de 2016. A conjuntura do Rio Grande do Sul não será muito
diferente: a recuperação lenta acompanhará a melhora gradual do cenário,
gerando um baixo crescimento de 0,4%. Ainda, a taxa de inflação (5,5%) deverá
ficar mais próxima da meta, e os juros em queda (11,50% a.a.).
O cenário
superior antevê um crescimento determinado pela recuperação acima do esperado
dos investimentos e da demanda interna (1,7%). Entretanto, é difícil
quantificar qual a demanda reprimida após três anos de resultados negativos. A
economia do Estado também acabará afetada pela recuperação mais robusta do
cenário nacional (1,5%).
Na
possibilidade de um cenário inferior não está descartada uma nova queda do PIB
(-2%) no País. A recuperação pode ocorrer tardiamente, levando à estagnação ou
à queda anual. Além disso, os riscos políticos ainda estão presentes. No Rio
Grande do Sul (-1,8%), mesmo que com baixa probabilidade, existe o temor de que
condições climáticas adversas se reflitam numa queda da produtividade na
agricultura.
O ANO DE
2016 :
Segundo
estimativa da FIERGS, a economia brasileira deve registrar contração de 3,5% em
2016, fechando o segundo ano em recessão. É a crise mais profunda da história:
em dois anos, o PIB encolheu 7,1% e o número de desempregados chegou a 12
milhões. A combinação das crises política e econômica potencializou o cenário
já deteriorado dos últimos dois anos, na medida em que todos os setores foram
afetados.
No Rio
Grande do Sul, a retração seguiu o ritmo da economia brasileira e também sofreu
com o encolhimento na demanda interna. A queda esperada para o PIB de 2016 no
Estado é de 3,2% e todos os setores apresentarão recuo neste ano. Ao todo, o
Estado soma 500 mil desempregados. Será a terceira queda anual consecutiva da economia
gaúcha, a mais longa crise já registrada.
Crédito
foto: Dudu Leal